O Administrador e empresário Abílio dos Santos Diniz, líder do Grupo Pão de Açúcar (um dos maiores empresários brasileiros)
morreu domingo (18 de fevereiro de 2024), aos 87 anos, em São
Paulo.
“É
com extremo pesar que a família Diniz informa o falecimento de
Abilio Diniz aos 87 anos neste domingo, 18 de fevereiro de 2024,
vítima de insuficiência respiratória em função de uma
pneumonite. O empresário deixa cinco filhos, esposa, netos e
bisnetos, e irá ao encontro do seu filho João Paulo, falecido em
2022. Desde já, a família agradece a todas as mensagens de apoio e
carinho”.
Nota da família.
Abilio
Diniz construiu um dos maiores grupos varejistas do Brasil, o Grupo
Pão de Açúcar (GPA), e foi um dos homens mais ricos do país,
enfrentando crises econômicas, disputas familiares, a chegada de
concorrentes estrangeiros e até um sequestro. Abilio Diniz queria
ser professor, mas acabou adiando o sonho. Foi seduzido pelo plano do
pai, um imigrante português, de abrir um supermercado.
Não
é possível contar a história do varejo brasileiro sem falar em
Abilio, o homem que transformou o empreendimento da família no
império do Pão
de Açúcar,
consolidando no país estratégias vindas do exterior, como
hipermercados e esteiras rolantes para carrinhos. De temperamento
forte e agressivo, travou duas grandes batalhas societárias durante
sua longa carreira empresarial.
A
primeira aconteceu dentro de casa, contra seus irmãos e sua mãe,
nos anos 1990. Saiu vitorioso, tornando-se sócio majoritário na
empresa da família, mas viu as relações com seus parentes ficarem
irremediavelmente abaladas.
Na
batalha seguinte, foi derrotado pela força, estratégia e disciplina
do gigante francês Casino, que executou sem alterações o contrato
assinado por Diniz, que foi obrigado a passar o controle do Pão de
Açúcar para seu sócio.
Abilio
deixou o Pão de Açúcar com quase 80 anos mas, em vez de se
aposentar e curtir a vida, o pai de seis filhos comprou uma parcela
relevante no Carrefour – tanto na filial brasileira, quanto no
global – e embarcou no desafio de tocar a BRF,
empresa na qual chegou a possuir quase R$ 2 bilhões investidos.
Religioso
e espiritual, Abilio também passou a investir na disseminação de
práticas saudáveis de vida, com o lançamento do Plenæ, uma
plataforma de conteúdo sobre qualidade de vida e longevidade, além
de escrever um best-seller sobre o assunto e gravar lives e podcast
relacionados ao bem estar.
São-paulino
fervoroso e apaixonado por esportes, Abilio manteve até o fim da
vida uma rotina rígida de exercícios e guardava com carinho seus
prêmios de uma série de modalidades nas quais competiu
profissionalmente, como automobilismo, polo e motonáutica.
Trajetória
familiar e profissional
O
bilionário Abilio Diniz e seu porte atlético incomum para um
octogenário nada lembravam a sua infância no bairro paulistano do
Paraíso. Abilio era o primogênito de Valentim e Floripes, um casal
de origem portuguesa que teve seu primeiro filho morando no fundo da
mercearia da família.
Valentim
(ou seu Santos, como ele se tornou conhecido) deixou Portugal em
1929, aos 16 anos, para tentar a vida no Brasil. Embarcou na terceira
classe de um navio para uma viagem de duas semanas rumo à São
Paulo, com uma parada no Rio de Janeiro – o jovem ficou maravilhado
com a vista do morro Pão de Açúcar.
Na
capital paulista, Valentim arrumou o emprego de balconista no mercado
Real Barateiro. Além do primeiro contato com o varejo, a rotina de
trabalho também lhe apresentou Floripes, uma cliente do mercado, com
quem seu Santos iria se casar em 1936. O ano marcou também a guinada
empreendedora de Valentim, que montou uma mercearia, e o nascimento
do primogênito Abilio. Com Floripes, teve mais cinco filhos:
Alcides, Arnaldo, Vera Lucia, Sonia e Lucília.
Abilio
não era popular. De baixa estatura e acima do peso, era o saco de
pancadas preferido de alguns de seus colegas do colégio
Anglo-Latino. Para escapar da perseguição, seu pai o incentivou a
aprender a se defender. O garoto se matriculou em aulas de boxe,
judô, karatê e capoeira. Assim, acabou descobrindo a paixão por
esportes, que durou até o fim da vida.
A
piscina e a academia eram sua válvula de escape para o estresse do
dia a dia e o ajudavam a cultivar um porte físico invejável,
exibido na capa da revista Veja quando já se aproximava dos 70 anos.
São-paulino, Abilio não perdia nenhum jogo do seu time de coração
e era ativo na vida política do clube. Além disso, manteve durante
anos um blog sobre futebol. Da mãe, herdou o lado espiritual: o
empresário mantinha sua fé ativa frequentando semanalmente a missa
e indo todo dia 22 até a igreja Santa Rita de Cássia.
Do pai,
recebeu o amor pelo empreendedorismo. Estudou Administração de
Empresas na Fundação Getulio Vargas e, aproveitando que a vida
financeira da família havia melhorado, queria engatar uma
pós-graduação na Universidade de Michigan e virar professor. Uma
conversa com o pai mudaria o seu destino – e o do varejo
brasileiro.
Trajetória
de empreendedor
Seu
Santos sempre pensou grande. Após abrir o mercado, comprou uma
padaria e entrou no mercado imobiliário, com a construção de um
pequeno prédio de oito apartamentos na avenida Brigadeiro Luiz
Antônio, em São Paulo. No térreo, abriu uma doceria e batizou com
o nome da primeira imagem que teve do Brasil: Pão de Açúcar. Mas
ele não queria parar por aí.
Enquanto
o comum no Brasil era o modelo de balcão, com vendedores que buscam
produtos para os clientes, a ideia de seu Santos era criar um
supermercado que usasse o conceito de autosserviço. E chamou o
primogênito para ajudá-lo. Em seu último ano de Administração na
FGV, Abilio abandonou o projeto de ser professor e então inaugurou,
com os pais, o primeiro supermercado Pão de Açúcar, em abril de
1959.
Na
FGV, além do conhecimento e do diploma em Adminstração, Abilio
também colecionou amigos, recrutou executivos e conheceu sua
primeira esposa. Casou-se com Maria Auriluce em 1960 e aproveitou a
lua de mel no exterior para fazer benchmark de supermercados.
Grupo
Pão de Açúcar
Quatro
anos após a inauguração da primeira unidade, a família Diniz
abriu o segundo Pão de Açúcar e embarcou em uma estratégia de
crescimento acelerado, fechando a década com mais de sessenta lojas
espalhadas por São Paulo e outras 16 cidades. O primeiro
hipermercado viria no começo da década de 1970, sob a bandeira
Jumbo.
Capitalizado
e com fôlego, Abilio encabeçou uma consolidação do setor
varejista com a aquisição de diversos concorrentes ao longo dos
anos seguintes como a Peg-Pag e o Sirva-se. Mas o grande salto veio
com a aquisição a Eletroradiobraz, segunda maior rede de
supermercados do país, em uma jogada articulada pelo governo para
evitar a quebra da endividada e ineficiente empresa.
Para
Abilio, uma das coisas mais importantes para a rede era a localização
das lojas. Por isso, para definir a abertura de um ponto, ele gastava
muita sola de sapato – e combustível de avião – para conhecer
pessoalmente as regiões brasileiras, entendendo o hábito dos
pedestres e o fluxo de veículos. Outro fator importante era a
formação de seus funcionários. Assim, ainda na década de 1970,
Abilio criou um dos primeiros programas de trainee do Brasil.
JJá
na década de 1980, se o negócio ia de vento em popa, com o Pão de
Açúcar operando mais de 150 lojas e 15 mil empregados, o ambiente
familiar desestabilizava.
As discussões públicas entre os irmãos tornaram-se comuns. Em 1988, após sucessivas tentativas fracassadas
de reconciliação, Alcides vendeu seus 8% de participação na
empresa por US$ 120 milhões.
Após esse período, surge a marca Exta que viria se tornar uma rede
supermercadista com grande destaque no nordeste brasileiro. Isso após
a abertura de capital da então relevante Ponto Frio. Novas
aquisições do Grupo permearam a década de 1990 demonstrando a sua
importância no mercado supermercadista e de abastecimento.
No
final da década de 1990 o Grupo Internacional Cassino adquiriu 25%
do grupo em uma expansão que culminaria com a obtenção da
presidência do GPA. No final da primeira década do novo século
surgiu o Assaí como associado no segmento atacado de auto serviço.
Importante mencionar, ainda, que o GPA
e Casas Bahia celebraram, nessa época, o Acordo Provisório de Reversibilidade da
Operação (APRO) com relação à associação anunciada entre GPA e
Casas Bahia. Os princípios do novo acordo foram: equilíbrio da
equação patrimonial e capitalização da nova sociedade; revisão
da estrutura do e-commerce e governança corporativa. Foi anunciado
que as lojas virtuais e as lojas físicas seriam controladas
separadamente. No mesmo ano, a empresa iniciou a conversão de 44
lojas Extra Eletro localizadas em São Paulo para a bandeira
Pontofrio.
Por
fim, entre as principais movimentações estratégicas recentes do
GPA foi o surgimento de nova razão social em substituição à
Globex Utilidades S/A. Sob a holding Via Varejo ficaram vinculadas as
operações das lojas físicas de Casas Bahia e Pontofrio. O Grupo
Casino tornou-se o único controlador do GPA. O Grupo se consolidou
como maior varejista da América Latina, operando com as marcas Pão
de Açúcar, Extra (Extra Hiper, Extra Supermercado, Mini Extra,
Posto Extra e Drogaria Extra) e Assaí Atacadista (atacado),
Pontofrio e Casas Bahia (eletroeletrônicos, eletrodomésticos e
móveis) e Nova Pontocom (comércio eletrônico). O Pão de Açúcar,
como supermercado ainda possui inúmeras lojas (supermercados) em
todo o Brasil.
Fonte: com informações de infomoney.com.br e exame.com.br